Uma gestante com deficiência visual emocionou na internet ao publicar um vídeo em sua rede social. Mãe de primeira viagem, Mellina Reis, de 40 anos, sentiu pela primeira vez o rosto da filha após um ultrassom realizado na 26ª semana de gestação. “Foi a maior emoção! Quando peguei o rostinho e consegui sentir ela em tamanho real, foi emocionante. A gente começa a perceber os detalhes, que antes ficavam só na imaginação”, conta a gestante.
Mellina produz conteúdo de turismo para o blog 4 Patas pelo Mundo, ao lado de sua cão-guia Hilary, uma labradora. Ela conseguiu sentir como era a sua bebê ainda no útero com a ajuda do Projeto Rostinho de Bebê da Alta Diagnósticos, em parceria com a Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI/Dasa) e PUC-Rio. O projeto foi criado para dar a oportunidade de gestantes cegas conhecerem o rostinho do bebê em tamanho natural, trazendo mais inclusão nesse momento especial. O modelo impresso é doado para essas mamães sem nenhum custo.
Perda da visão
Aos 14 anos, Mellina descobriu uma doença degenerativa na retina. A doença foi regredindo aos poucos e com 27 anos a visão estava totalmente agravada. “Eu enxerguei bem até os 14, mas digamos que foi com 27 que passei a me considerar uma pessoa com deficiência visual. É uma cegueira praticamente total, mas tenho percepções de luz e consigo enxergar um pouco de vultos. É como quando se olha no espelho depois de um banho muito quente. Tudo muito desfocado, sempre aquela sensação de neblina na minha frente”, descreve.
Atualmente com 32 semanas de gestação, Mellina curte a primeira gravidez. Por não conseguir enxergar, a gravidez de Mellina tem sido super sensorial. “É engraçado, eu sinto ela mexer sempre com a mão na minha barriga. Meu marido fica até brincando. Quando eu coloco a mão na barriga ele diz, ‘ela tá se mexendo?’ A gente tem uma conexão diferente. As pessoas se prendem muito ao visual. A mulher se olha no espelho, vê o seio crescer, mudar a coloração, mudar o corpo. Eu não, eu percebi as mudanças através do toque. A primeira coisa que percebi foi o umbigo diferente, depois a barriga crescendo. A textura dos seios. Mudanças que foram acontecendo”, revela a futura mamãe.
Projeto Rostinho de Bebê
A impressão de fetos em 3D tem sido feita desde 2007, mas foi em 2011 que o Projeto Rostinho de Bebê começou. O ginecologista, obstetra e especialista em Medicina Fetal do Alta Diagnósticos Heron Werner conta que a impressão é feita a partir da imagem da ultrassonografia do bebê ou ressonância. “Nós fazemos a reconstituição da imagem e enviamos para impressão. Durante todos esses anos, tivemos um feedback muito grande dos pacientes. Em até duas semanas as gestantes de qualquer lugar do país recebem a impressão do rostinho por Sedex”, explica o especialista.
Com foco inicial de realizar a impressão de fetos para estudo médico, HeronWerner percebeu que poderia utilizar a ferramenta para o pré-natal de gestantes com deficiência visual. “Eu cheguei a trabalhar em hospitais na França, com grávidas deficientes visuais em 1992, 1993. Nós não tínhamos ultrassom 3D. Então usávamos a imagem do ultrassom, imprimia num papel e recortava, para a gestante poder tocar. Com o estudo em 3D e logo lembrei disso”, recorda o médico.
O primeiro casal que fez parte do programa, em 2011, eram cegos e moravam no Rio de Janeiro. A impressão foi realizada de todo o corpinho do bebê, em tamanho real. “O impacto deles foi muito grande”, conta o médico. Werner fez a ultrassonografia, escolheu a melhor imagem para a impressão. Com o corpinho do bebê impresso, ele refez o ultrassom e narrou todo o exame, desta vez com gestante e pai juntos tocando a impressão do bebê.
As impressões são feitas em resina e podem ser feitas com imagens de qualquer idade gestacional. Para uma melhor impressão e um rostinho mais bochechudo, com carinha de bebê, Werner orienta que a impressão seja feita em torno da 25º ou 26º semana.
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